quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ser "Velha"!


Habitualmente tomo cafezinho num sitio onde as ”tias” cá do bairro vão…
Acabei por começar a ir lá porque, a minha mãe vai lá sempre e acabamos por tomar café juntas.
Digamos que, há muito cafezinho por onde escolher mas, as escolhas tornam em cada uma pior que outra.
Começando pelo próprio café, de fraca qualidade e sabor, passando aos ambientes e pior parte, temas de conversa…

Não pude deixar de ouvir, inevitável…
Encontram-se duas “pavoas tias”, ou com mania de “tias” e desfazem-se em cumprimentos e elogios…
Há quanto tempo não a via, está muito bem, mais magra…etc. …
A outra delicadamente agradece e diz que nem por isso, e então até mostra o cinto, que já estava no último buraco, que já não dava mais…
Entretanto a outra também exibe o seu…de pele genuína…era o máximo…o seu favorito…enfim.
Até que o tópico começa a versar na idade, e elas próprias a vangloriar-se de tão bem que estavam…entretanto veio a opulência de falar nas filhas muito lindas, muito altas, loiras, bem vestidas e muito magras, e que herdavam os ditos cintos todos, chiquíssimos…novos até, porque já não cabiam lá dentro…
Até um bendito espelho que uma tinha acabado de comprar para o quarto do filho apareceu no filme…preço, descrição pormenorizada e como se achava esbelta…até lá ía de propósito só para se poder ver…

A outra logo contra-atacou com a mobília nova de quarto da filha, preço e marca e como estavam fantásticos os saldos no El Corte Inglês, e era “uma das primeiras que lá ía sempre”…imaginem…comprar cintos!
Mas cintos chiquíssimos em pele!
Mas agora só fazem cintos para jovens…esbeltas e altas como a filha…

Até à conclusão de que o corpo muda, o nosso mudou…mas estamos muito bem!

De facto, apesar de velhas e muito ostensivas, acabei por ter de anuir comigo mesma…cabelinho arranjado, unha feita, “bata” El Corte Inglês e a tomarem o belo chá das cinco no café…
Descansadas da vida e sem stress…comparadas comigo, meus amigos, a “velha” era mesmo eu!

Falta de tempo ou paciência, quem saiu de lá a pensar na vida e na conversa fui eu…

Sem cinto chiquíssimo…o que uso já mandei fazer 3 novos buracos, senão perdia as calças…enfim!

Senti-me “velha”e cansada, ao pé de tanta juventude sénior!
Das duas uma, ou peço já o cartão sénior da Inatel e começo a fazer umas termas, ou compro um cinto novo no El Corte Inglês…mas atenção, nos saldos!
E melhor também, um espelho daqueles, não vá tecê-las!

Por um lado apreciei a tão alta auto-estima que presenciei, seja em que idade for e em nós mulheres, só nos faz bem.
Velha, nova, gorda ou magra, pernas assim, braços assado…celulites, estriais, etc. …
Todas temos disso!
Defeitos e virtudes!
Infelizmente passamos sempre demasiado tempo a olhar aos defeitos…mas é típico feminino, nunca estamos contentes com o que Deus nos deu…e nunca vemos o que de melhor temos…
Mas não há nada que nos valha com falta de auto-estima, sejam eles espelhos, cintos chiquíssimos ou esbelta figura!

Por isso ser velha, o fisicamente é inevitável…psicologicamente, talvez acarrete outras consequências bem piores que se pudessem resolver com uma ida aos saldos…
Falta de auto-estima, envelhece-nos prematuramente em todos os sentidos…

Por isso para eles e para elas, um trapinho novo, corte de cabelo e cuidarmo-nos um pouco, só nos faz é bem…esqueçam lá é as etiquetas de marca e de fazer tema de conversa o cinto chiquíssimo…lol
Aí não é ser “velho/a”…é ser “gente miudinha”!

domingo, 10 de janeiro de 2010

Voltar a ser gente....




No meio das tropelias do destino, nos afazeres habituais do dia-a-dia, na pressa do relógio que faz o seu compasso ritmado na regra…esquecemo-nos de ser gente.
Com tanta coisa a acontecer ao longo dos anos da minha vida, sei que nem tenho parado para “ser gente”.
Sei que deixei de ser, sei que perdi aquela luz que tinha.
Foram tantas perdas de pessoas queridas deste mundo, emocionais e materiais também, que abalaram a estrutura que me sustinha, pois nunca tinha aprendido a perder…

Ocasionada pela maternidade inesperada e por todas as coisas adstritas, conjunturas e desaires da vida, tive e tenho consciência agora de como deixei ficar para trás coisas sem grande importância que até considerava relevantes e outras muito importantes e fundamentais que nem reconhecia.

É como se tivesse esquecido de mim, voluntariamente, até um dia destes poder voltar a ser…
Ser como era e quem era será certamente impossível, mas depois de me ignorar durante quase dois anos, (tirando o tempo antes em que já o vinha a fazer) e talvez inspiração do momento e inicio de ano, prometi-me ser gente a partir de agora.
Em consequência de alguns acontecimentos, invadiu-me uma tristeza de chegar à estranha conclusão de que quem me deveria conhecer e dar valor, não me conhece de todo.
Com quem pensamos que podemos contar e confiar, desiludem-nos amargamente…
Constantemente arranjo desculpas, para desculpar essa gente, que gosta de ser gente e vive a ser gente! Mas quando precisam lembram-se sempre a quem vir recorrer…
Mesmo prejudicando, passando por cima ou ignorando...
Ora é o tempo, ora o trabalho, ora a correria dos filhos…ora esquecem-se de nós e o que fazemos…o que fizemos, quem somos…o que passamos a ser gente juntos.

Pessoalmente odeio conflitos, discussões e apontar certas coisas, tais como, eu também fiz isto e aquilo, ajudei, etc. …
Se fazemos e estamos presentes ninguém nos obriga, e se fazemos de coração, não vamos a correr a apontar num “ caderninho” de cobranças.
Seja em amizade, amor ou família, em nada se aplica esta cobrança…
Talvez inconscientemente, acabemos por cobrar um pouco de atenção do outro lado, mas falo por mim, nem isso nunca cobro.
Acho que somos livres, temos direitos e deveres e esses são feitos de forma natural, não como obrigação.

Adoro conhecer as pessoas verdadeiramente, hábitos, gostos, preferências.
As suas vivências e o que os faz dar uma gargalhada solta, ou o que os possa magoar, para não cair em falta.
Gosto de estar lá quando é preciso, e até através de um simples telefonema reconhecer na voz o que essa pessoa sente naquele momento.
Sei que ando mais ocupada, distraída, esquecida de ser gente…mas se é preciso, continuo cá na mesma e disponível como antes.

E isto não é uma questão de juízos de valores, mas ao olhar à minha volta…talvez seja culpa minha ter esquecido de ser gente.
Acho que fui o meu maior carrasco no meio desta história toda, mas ao mesmo tempo pergunto-me: quem era suposto me conhecer tão bem, ao invés das habituais cobranças, porque não pararam um pouco e me disseram isso?! Porque não me olharam de verdade e viram o que realmente estava a acontecer?!
Ou apenas perguntarem, porque te esqueceste de ser gente?!
Conforme alguém fez e quase sem me conhecer supostamente assim tão bem…
Ou mesmo olharem e perguntarem quem sou eu agora no final das contas da vida?! Que soma tenho no presente que me faz a pessoa que sou?!
Como disse anteriormente, acho que já nem eu me reconheço no presente, certas coisas aceito-as como dádivas, noutras tornei-me totalmente intolerante.
E são coisas que nem controlo, são impulsos…não quero e não aceito…talvez por me ter esquecido de ser gente enquanto pude e achei que devia, e sendo a soma de tantas coisas que fui passando, nem me apercebi como a vida me tem moldado afinal.

Talvez tenha sido uma condenação imposta por mim, apenas sustive o ar durante este tempo todo, à espera que um pesadelo passa-se…só que foi real e é real…nem sonho mau nem ilusão…

Por isso, sei o que não quero, o que não gosto e de onde venho, mas não para onde vou…
Sei todas as minhas somas, medos e receios.
Reconheço as minhas qualidades, anseios e sonhos!

Reconheço que deixei de ser gente quando desisti de mim, mas…
Hoje, e isto em resposta à tua pergunta amigo, que sabes quem és, estou cansada de penalizações e de ficar nos entretantos da vida, à janela, à espera de sol…

É preciso ser gente para viver, é preciso amar e ser amado, é preciso viver a vida!
Passa num entretanto, mal abrimos os olhos ao mundo e quando nos habituamos a ela…já está a acabar…
Fazemo-nos velhos!
Não só fisicamente, mas emocionalmente e psicologicamente…
De que vale um corpo jovem com alma velha?!

Para vocês agora, olhem à vossa volta, na vossa vida, quem vos conhece de verdade e vos reconhece?!
Quem sabe mesmo o que pensam, quem são?! Os vossos gostos, preferências, hábitos…o vosso passado…inclusive até os “esqueletos no armário”?
Quem são essas pessoas que mesmo depois de tanta coisa e tanto tempo continuam aí?!
E a insistir, a puxar a calça/saia, a dizerem estou aqui?!
Façam esse exercício um bocadinho e contem quantas pessoas são e depois, vejam a lista do telemóvel e verão o vosso saldo…
Mantenham essas pessoas perto, muito perto…são pérolas!

Os anos passam, as idades são diferentes, os interesses mudam, mas nós apenas nos vamos moldando às circunstâncias da vida…será que mudamos assim tanto com as somas da vida?!
Que somos sempre gente diferente num só corpo….não me parece…

Li um dia algures que as pessoas vêem-se e reconhecem-se em situações limite.
O seu verdadeiro carácter é exposto!

Se apesar desses impulsos, aquelas pessoas ainda estão, estimem-nas, pois o tempo passa, as pessoas cansam-se e quando quiserem voltar atrás, serão apenas uma janela para olhar o passado e já não serão uma porta…

Obrigado amigo pela pergunta, deixaste-me a pensar no que realmente quero e que passei demasiado tempo sem ser gente.
Tinhas mesmo razão apesar de te ter negado….
E sim, voltarei a sorrir e a ter a luz que tive.
Prometo! :)

Beijinhos