sábado, 17 de outubro de 2009

Estigma:Mãe Solteira II


Olá de novo, decidi voltar ao tema porque tenho me apercebido do resultado das buscas e acabam por chegar assim ao meu Blogue.
No meu anterior “Post”, falo de uma maneira muito genérica e superficial acerca do tema.
Este é um tema muito sério e ao que me apercebi, cada vez mais pessoas passam por este tipo de situação, infelizmente, e procuram avidamente respostas tal como eu fiz na altura…

A internet é um acesso a um mundo de informação, mas relativo a este, vamos lhe chamar “problema” não existe nada de que se possa tirar grande partido, esclarecer dúvidas ou clarificar o nosso espírito em relação ao “nosso” problema, por essa mesma razão lhe chamei “Estigma”.
Não há respostas claras, não há apoios directos ou indirectos de instituições, psicológicos, monetários, ou até mesmo aconselhamento jurídico.
E nenhum caso ou situação é igual à "nossa".

Visto isto, achei importante deixar o meu testemunho.

Para quem não sabia, fica hoje a saber, aquando da gravidez da minha filhota, quando descobri, contei ao meu namorado da altura e este simplesmente me virou as costas e mandou-me resolver o problema.
Tinha acabado de saber que ía ser despedida, e apanhada de surpresa com a noticia de que estava grávida e longe de tudo e todos, numa terra em que não conhecia ninguém, apenas duas pessoas que foram o meu apoio entretanto durante a minha gravidez.

Soube da minha gravidez às 9 semanas e 2 dias…segundo a legislação a grávida tem até às 10 semanas para interromper a gravidez.
A surpresa para mim foi tal que nem sabia como dizer ao pai da minha filha, que reagiu da pior maneira que esperava, pois nem eu bem sabia o que queria fazer.
Naquele momento a única coisa que precisava, era dele e do seu apoio, e claro, tomar uma decisão e fosse ela qual fosse, a dois.
A dois porque são precisos dois para o fazer, e nenhum de nós estava obrigado na relação…
Virou costas e tratou-me pior que a um cão.
Abandonou-me à sorte e que me desenrascasse!
O mundo desabou sobre mim e em mim.
Senti-me mais perdida que alguma vez me tinha sentido. Passou-me mil e uma idiotice pela cabeça e mas lá fui ao médico de família…
Estive cerca de duas horas no gabinete da enfermeira que assistia na altura o meu médico e não conseguia nem falar, nem parar de chorar.
Desabafei com estranhos o que me estava a acontecer e agradeço ao apoio que me deram na altura.
Foram a luz humana naquela hora que eu precisava para me levantar.
Explicaram-me como tudo se ía passar caso quisesse interromper a gravidez e indicaram-me que tinha de ir ao hospital onde teria uma consulta com o médico e com o psicólogo e teria mais 2/3 dias para decidir.

Nunca fui, não tive coragem.
Naquele dia mesmo, ironicamente conheci uma pessoa que era filha de uma mãe solteira e disse-me que os meus receios de ser egoísta em ter este filho e que um dia ele se virasse contra mim eram infundados.
Ela adora e admira a mãe, cresceu e tornou-se uma pessoa fantástica, apesar de tudo, licenciada, casada e feliz.
Acaso calhou, também ela estava grávida e como mulher perguntei-me a mim própria como negar um fruto de uma relação em que até amava essa pessoa?!
Pensei que tinha reagido assim pelo choque, mas que depois cairia em si…
Apesar de “acidente” a Bia já existia!
De que valia continuar a viver se me ía torturar o resto da minha vida por ter roubado a vida a essa pequenina pessoa que vinha a caminho?! Soma de mim e da pessoa que amava?!
Será que tinha esse direito?!
Só me lembrava de uma coisa, Deus não nos dá um fardo maior do que aquele que nós possamos carregar.
Teria coragem para enfrentar tudo e todos nesta condição?!
Família, amigos, meio social…?! E como ía ser depois?! E como ainda hoje me pergunto, como vai ser?! O que vou dizer à minha filha quando um dia perguntar pelo pai? A verdade?! Que ele nunca a quis?! Ou mentir para a proteger…ele morreu?!
Isto é uma questão que um dia hei-de resolver…

Aos 29 anos já não somos propriamente adolescentes.
Quando estamos numa relação e que dela advêm “problemas”, há que se ser digno e responsável pelo que se faz.
O pai da Bia não me abandonou por a relação acabar, abandonou-me porque eu engravidei…deitou fora o brinquedo porque tornou-se sério e real e ele não queria isso, queria apenas brincar!
E eu, parva nunca vi!
O amor cega mesmo as pessoas…
Entreguei-me de corpo e alma a uma relação e a uma pessoa que afinal não passava de uma pessoa de fraco carácter…aqui sim, errei muito, pois não mereceu nem um único minuto da minha atenção, mas o que lá vai, lá vai.
Não lamento o que vivi, pois tenho o maior tesouro que a vida me deu, apenas lamento com quem aconteceu, por cegamente pensar que era uma pessoa decente e merecedora de mim, de toda a atenção e carinho do mundo e por essa razão estava com ele.

Decisão tomada ou não, por cobardia de me “descartar” do “problema”, atónita de sofrimento, comecei então a pensar no filho que carregava e na vida que teremos pela frente.

Até aos meus 6 meses e pouco de gravidez não contei a ninguém, nem à minha família.
Estava a 200 e muitos kms de todos e nem sabia como o fazer, nem quando.
Decidi me responsabilizar pela minha decisão, escondi o mais que pude as necessidades que passei e ultrapassei até não ser mais possível.
Só não façam o que eu fiz, isolar-me com vergonha e sentimento de culpa de algo que não tinha feito sozinha, nem de propósito.
Mais, a mais, a minha filha precisava e precisa do carinho de todos pois há uma falta que vai sempre ter para o resto da vida, a do pai.
E essa figura é insubstituível, mesmo que um dia venha a ter uma pessoa que ache que merece ser o pai da Bia, nunca será verdadeiramente a mesma coisa, mas pelas premissas com que se apresentou o pai, quem vier tomar essa figura será sempre um bem maior para a minha filha.

Entretanto procurei tal como vocês, respostas, instituições de apoio, etc.
Existe mas só nas grandes metrópoles o Apoio à Grávida, e o Apoio à Mãe, mas onde estava era impossível tê-lo.
Se estiverem mesmo em grande aflição procurem estas duas instituições, sempre vos puderam encaminhar a uma melhor solução se não tiverem mesmo mais nenhum sítio ou pessoa a quem recorrer.
Mas, tenham em mente uma coisa, o maior e melhor apoio que têm é a família, isto se eles aceitarem claro.
Assim como também os amigos de verdade, que não tenham vergonha e aceitem a vossa situação…pois também vai haver os que desaparecem…
A gravidez é uma fase muito sensível da mulher e precisa de apoio e carinho.

Lembrem-se de uma coisa fundamental são regras de ouro a serem cumpridas, calma, paz e serenidade, o vosso bebé sente tudo.
Quando ele nascer tudo se há-de resolver!
Melhor ou pior, tudo se resolve!
Nunca percam a esperança, amanhã é um outro dia.
E esse bebé que está a crescer dentro de nós precisa de nós, depende de nós e só nós mães, podemos dar o que precisam e os compreendemos!
Calma, paz e serenidade!
Comer bem, tratarem-se bem, fazer todos os exames, preparar o melhor possível a chegada desse milagre de vida feito em nós.
Esqueçam o facto de estarem sem o pai, vejam o lado bom, vão ter o bebé só para vocês e todo o tempo do mundo para lhe dar as boas vindas à vida!
E terão de ter força para ser a mãe e o pai, carinho e atenção a dobrar para dar, por isso têm de estar bem, fortes!
Foi o que fiz, apesar de me ter isolado do mundo para que não sentisse emoções, a minha maior preocupação foi que a minha filha viesse saudável, calma e que pudesse ser um bebé feliz!

Não há soluções “mágicas” para resolver estas questões, a partir do momento que se toma uma decisão, ser mãe, há que preparar e esse sim é o nosso dever, a chegada do nosso filho.
Como disse no anterior “Post”, não é uma questão de força ou coragem, mas de nos adaptarmos às circunstâncias da vida conforme ela se apresenta!
Se por acaso tiverem alguma questão em que possa ajudar, perguntem-me sem medos.
No que puder ajudar estou aqui!
O comentário não será publicado, conforme já o fiz!

Passando à parte jurídica da questão, e respondendo ao comentário que recebi, se o pai registar a criança mas a mãe for solteira, a tutela é inteiramente da mãe, a não ser que na altura digam ao conservador que é tutela conjunta e fica averbada.
Senão só em tribunal se resolve.

No caso do pai não registar é aberto um processo de Averiguação Oficiosa de Paternidade, em que o Ministério Publico trata de efectuar várias diligências no sentido de provar a Paternidade do menor.

De uma forma ou de outra tudo se resolve!
O importante é proteger esse bebé mais e acima de tudo e todos!
E ao que não tem remédio, remediado está!
Vão ver que a alegria que o vosso bebé vos vai trazer, vai compensar todas as tristezas e sofrimentos que ficaram para trás.

Vou deixar aqui alguns contactos que vos possam ser utéis:

SOS GRÁVIDA – Linha telefónica de apoio nas áreas da gravidez, sexualidade e planeamento familiar. Tel: 21 386 20 20 / 808 20 11 39

http://www.ajudademae.com/

Aqui podem vos encaminhar para algum apoio…

Não desistam, tudo se resolve, amanhã é outro dia.
Não vos minto, não é fácil, mas é possível!

2 comentários:

Mariana disse...

Olá Silvia. Adorei seu blog, interessantíssimo os assuntos. Sobre mãe solteira, também sou. O pai do meu filho é gente boa, mas não estamos juntos. Sinto falta dele?; é claro, mas confesso que me esforço muito para entender a cabeça das pessoas, o motivo de tanto preconceito...ohhhh, ela é mãe solteira!!! E daí??? Viramos ponto de referência, minha nossa! o que é isso...chega a ser cômico, como você escreveu anteriormente, somos mães, mãe solteira, mãe casada, mãe separada, mãe viúva,tudo igual minha gente, pra quê isso?, mas não sinto diferente das outras mães, como disse, sinto, é claro a falta de um pai mais presente, que vivesse o noso dia-a-dia, mas nem tudo na vida, acontece da maneira que gostaríamos, nem tudo mesmo!! Abraços Silvia, vou visitar mais vezes seu blog.. Mariana - Santa Catarina - Brasil

Sílvia Anjos disse...

Obrigado Mariana pelo comentário e pelo testemunho!
Desejo muita sorte nesse crecer do seu filhote e que tudo corra bem!

Tentei dizer isto mesmo, mãe solteira não pode continuar a ser um estigma e tem de ser resolvido na cabeça das pessoas!
Apenas mães e orgulhosas dos nossos tesouros!
Com ou sem percalços do destino, porque isso toda a gente tem e a isso se chama vida!

O futuro, é sempre uma carta fechada, mas ao olharmos ao nosso lado, vemos sempre essa felicidade crescente que nos faz confiar e nos dá força para o nosso passo seguinte, que tenhamos para dar!

Beijinhos das duas!