terça-feira, 31 de março de 2015

Manto

Embrulho-me na dor,

Como se fosse um manto,

Que calo e consinto,

Alheia no meu leito desperto,

Do tempo que me sussurra ao ouvido,

A dizer-me que passa, que já não volta...

Como o perco, como me perdi.


Sinto na face o beijo gélido da partida,

No peito o vazio da morada,

Do quente dos sonhos.


Nunca estive pronta a partilhar-me,

E tudo dei de mim.


Construi pontes, castelos e fantasias,

Sonhei acordada em doces limbos...

Outrora fui outra em mim,

Doce guerreira, talvez querubim...


Hoje,

Lua minguante, trajada com manto de dor,

Embrulho as feridas, as marcas, as lembranças,

Acalento o sopro por obrigação à esperança,

E faço-me sumir ao olhar de todos.


Falta o cajado possuir,

Para calar o doer,

Para esventrar a dor.


Pode o manto cair,

O cajado florir,

Calar-se a dor...


Só queria sentir essa paz do meu leito,

E hoje, dormir, hoje sem dor.

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