terça-feira, 16 de junho de 2015

“(Des)Intimidades”




Estive até há pouco tempo num relacionamento, que durou o tempo suficiente para perceber uma série de coisas…

É um facto que mudei, amadureci muito na forma e maneira de vivenciar os meus afectos e relações e que finalmente tenho os pés na terra.
Deixei os “óculos de filtro cor-de-rosa” de lado e acabei por usar uns bem escuros…assim as minhas decepções seriam muito menos dolorosas que as anteriores, apesar de as ter sofrido de qualquer forma.

É facto que também não é muito inteligente vivenciar uma relação na defensiva, na verdade acabamos por nunca viver ou nos entregar, mas também tem a ver com o “grau” ou “medida” de sentimento que sentimos e nisto sempre fui pragmática, sempre disse e soube que gostar não era amar e dizia-o frequentemente ao meu parceiro, porque nunca quis que ele se sentisse enganado.

Facto é que ele nunca aceitou e tal como eu já outrora tinha usado os “óculos de filtro cor-de-rosa” ele insistia em usa-los e dizia que eu o amava porque estava com ele…
Tentei tanta vez pôr um ponto final na relação mas ele nunca aceitava e acabava por continuar no mesmo erro a insistir…
Por comodismo e expectativa acabava por ficar na esperança que os meus sentimentos evoluíssem, que a minha vontade de partilhar se autenticasse mas…

Mas era sempre um mas e uma série de confusões e entraves…tentava arranjar explicações e desculpas do meu psicológico e da minha resistência em ficar e mesmo ele dizia que eu tinha medos etc…
Nunca foi isso, simplesmente era um sentimento pequeno demais e morreu devido a erro crasso dele, a cobardia.

E no depois começaram os “sintomas”…

Quando temos uma relação a dois, tudo é normal e natural…todos sabemos que ninguém é perfeito, todos sabemos que todos temos vícios e hábitos que os outros não gostam ou não toleram…mas quando as coisas ficam mesmo intoleráveis e impossíveis de transpor…aí é o início do fim.
As intimidades tornam-se constrangedoras ou até mesmo chocantes…temos de fazer um processo mental estúpido para fazer que está tudo bem ou inventar uma desculpa para evitar a situação e sair de cena…verdadeiros números de contorcionismo só para não magoarmos o outro na exposição das suas fragilidades…

Mas ao evitarmos estas coisas porque por e simplesmente não toleramos, diz-nos tanta coisa afinal…diz-nos que é mesmo o final e que uma vida a dois jamais vai ser possível, porque efectivamente tudo isto vai fazer parte no dia-a-dia!

Engraçado que no início, as pessoas tendem a suprimir as suas fragilidades intimas e tudo parece “perfeito” mas com o tempo elas aparecem e o segredo é de facto a outra parte saber lidar com isso ou não, e muito tem a ver com os sentimentos, porque efectivamente amar é também gostar dos “defeitos” daquela pessoa, não é tentar altera-los…

E tudo se precipita quando o “peso” passa a ser defeitos e não virtudes.

Mas genericamente falando…quem gosta de ver o outro despenteado e com cara de atropelamento a feder da boca de manhã?! J
O cheiro do cholé quando se descalçam e que fica a pairar pela casa durante horas até dar vómitos?! A ver alguém a babar-se durante o sono ou a gasear como metralhadora em pleno ataque ao inimigo não falando do cheiro?!
Quem é que gosta de ser informado diariamente das fezes do outro ou da textura das mesmas e a quantidade e onde as expeliu?! E porque raio isto faz tão feliz a outra pessoa só por partilhar com a pessoa que ama?!
Tudo isto é Sexy?!
E onde foi a parte romântica que eu perdi?! (pensamos) J

Até às visões do “inferno” que nos chocam quando não deveriam…só porque tudo é normal e natural, tal como ver alguém todo nú sentado numa sanita… percebi que não estava apta a tanta “partilha” intima…! Eu não!...

Com muita certeza que a outra parte também terá visto ou sentido coisas que não gostou, porque tenho defeitos como os outros, mas também não soube…

Com este choque de colecta de "muita informação" e grafismo real, percebemos que nunca vai funcionar…não só por parte dos entraves psicológicos e práticos de vida a dois, mas pela intimidade em si…

Tudo acaba por se fechar no grau e na medida do nosso sentimento…quando amamos achamos tudo “lindo”, nada nos faz confusão, tudo é normal e natural…o que não é simplesmente fica! Aceitamos sem constrangimento maior…

E depois como acabar com esse alguém sem referir estes pontos para não magoar porque não é justo fragilizar essa pessoa levando-a a ter complexos?! Se a pessoa não aceita o directo e simples "acabou não quero mais"?!

Ter de se recorrer a artifícios só porque a pessoa não aceita que nós de facto não nos “fechamos” com ela e não estamos a conseguir lidar com isso?! E que nunca foi à falta de “pedir” discretamente sem magoar que a pessoa tentasse não dizer ou fazer qualquer coisa que nos deixava desconfortáveis?!

E como fazer crescer um sentimento que se extinguiu que poderia fazer todas estas coisas se tornarem irrelevantes?!

Infelizmente, confesso, tive de recorrer a estratégias psicológicas, dizer e aproveitar-me de situações que nem dou importância nenhuma para acabar com tudo porque depois do directo que não aceitava só me restava esta solução, no fundo prefiro que fique com raiva de mim e avance do que fique a lamentar-se diariamente a pensar em algo e num sentimento a “solo” e a perguntar insistentemente porque acabou.

A maior das razões foi por muita falta de sentimento meu e pelas nossas “(des)intimidades” insuperáveis de parte a parte…

Pior de tudo é no fim, eu jogar um jogo psicológico completamente infantil no facebook e a pessoa sentir-se atingida e aí eu pensar: eu que me expus tanto para que me conhecesse e afinal a pessoa nem se apercebe que eu não seria capaz de ser tão básica e só a isto é que responde?!

À conclusão que AMAR é conhecer o outro também além da intimidade, conhecer o íntimo…e aqui mais uma certeza que eu tive, tal como eu no passado amei ilusões, aqui aconteceu o mesmo…porque a pessoa nem tem a mínima ideia de quem sou afinal, infelizmente.

Lamentavelmente chegou ao fim porque estava condenado desde o início, levo memórias boas, mas mais de amizade do que propriamente de afectos e intimidade… a raiva pelo jogo infantil vai ficar e a pessoa vai simplesmente seguir em frente para voltar a ser feliz como era o meu objectivo.

Se a minha imagem não ficou a melhor também não importa, desde que isso o faça seguir em frente e volte a ter as suas intimidades sem complexos nessa partilha, missão cumprida…!
Não magoei mais que o necessário e apenas para que seguisse em frente e magoa-me mais a mim ter de magoar do que efectivamente à pessoa em causa, que nem calcula ao que tive de recorrer só para que seguisse em frente.


Fiquem bem!

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